Tema de música e paixão dos moradores de Goiânia: conheça cinco frutas do Cerrado e suas qualidades nutricionais
24/10/2025
(Foto: Reprodução) Goiânia 92 anos: conheça frutas do Cerrado e suas qualidades nutricionais
Como na canção “Frutos da Terra”, interpretada por Marcelo Barra, as frutas do Cerrado embalam a memória afetiva dos goianienses. Sabores que amadurecem com a chuva, colorem os quintais e marcaram as manhãs de sábado com a exibição do programa de mesmo nome, na TV Anhanguera. No aniversário de 92 anos de Goiânia, o g1 celebra esses frutos que, além de poesia, são fonte de nutrição (confira em detalhes abaixo).
“Chuvinha de novembro amadurece a gabiroba/Passarinho voa aos bandos em cima do pé de manga/No Cerrado é só sair e encher as mãos de pitanga”, diz trecho da música.
Em entrevista ao g1, Marcelo relembrou a trajetória da canção, eternizada em sua voz e marcada na memória afetiva dos goianos. A música, composta por Genésio Tocantins e Hamilton Carneiro, apresentador do programa “Frutas da Terra”, foi gravada há cerca de 30 anos e acabou se tornando símbolo da identidade regional. “Gravamos um disco e resolvemos incluir essa canção, que tinha tudo a ver com o Cerrado e com Goiás”, contou.
Na época, em 1997, ele reuniu vários artistas goianos para participar do projeto. Depois, o cantor regravou a canção novamente. Dessa vez, sozinho. Essa versão ganhou destaque e ainda é relembrada com carinho pelo público em seus shows.
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Cantor Marcelo Barra, conhecido pela música "Frutos da Terra"
Reprodução/YouTube e Instagram de Marcelo Barra
Para o artista, o sucesso da obra ultrapassa o tempo. “Essas músicas que falam do nosso estado não têm um impacto imediato, mas permanecem. Elas se firmam e passam de geração em geração”, destacou. Ele contou já ter sido surpreendido por fãs de três gerações que sabiam de cor suas canções, a prova de que, “essas músicas têm estrutura para durar a vida toda”.
Filho de mãe goiana e pai mineiro, Marcelo nasceu em Goiânia e carrega com orgulho as tradições herdadas. “Minha mãe, nascida em Vila Boa de Goiás, passou para a gente esses costumes e esse amor pela terra”, recordou. Aos 66 anos, o músico segue com a mesma paixão pelos temas regionais e afirma que cantar sobre Goiás é uma forma de preservar as raízes e contar a história do povo.
Caju e curiola, em Goiás
Arquivo pessoal/Gabriela Nunes
Tesouros nutricionais
As frutas do Cerrado, como pequi, murici, mangaba, baru e mama-cadela, são verdadeiros tesouros nutricionais e ambientais, além de possuírem diferentes formas de consumo. Segundo a nutricionista Gleicy Nunes, esses alimentos “são ricos em vitaminas, minerais e antioxidantes, oferecendo boas quantidades de vitamina C, fibras, compostos fenólicos e carotenoides que contribuem para a imunidade, o bom funcionamento do intestino e a prevenção de doenças”.
Gleicy explicou que a composição dessas frutas apresenta diversos compostos bioativos, com destaque para antioxidantes exclusivos e alta concentração de fitoquímicos: “Muitas vezes, esses níveis superam os encontrados em frutas tradicionais, como banana e maçã”. Ela completou que a ingestão in natura é a melhor maneira de aproveitar todos os nutrientes antioxidantes.
A nutricionista Gabriela Teles explicou as qualidades nutricionistas de frutas do Cerrado. Confira cada uma abaixo:
Pequi
Pequi é uma das frutas do Cerrado mais queridas, em Goiás
Yanca Cristina/g1 Goiás
Queridinho dos goianos, o pequi é um fruto protoganista de diversas pesquisas e usos medicinais, para além do consumo tradicional. A especialista lista as seguintes qualidades:
Vitaminas A e C;
Carotenoides que ajudam na pele
Lipídios altamente antioxidantes, que também têm sido usados na indústria estética;
Propriedades anti-inflamatórias e antimicrobianas;
Ajuda na proteção do fígado, intestino e coração.
O fruto típico do Cerrado pode contribuir para a prevenção e manejo de doenças renais crônicas e ainda ajudar na redução do colesterol ruim (LDL), segundo estudos experimentais. Além disso, uma pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG) desenvolve variação do pequi em pó para ser usada na culinária e na indústria farmacêutica.
Mangaba
Pé de mangaba, em Goiás
Arquivo pessoal/Gabriela Nunes
A mangaba tem uma polpa carnosa-viscosa de cor amarela, sabor ácido e adocicado. Segundo Gabriela, é um fruto de alto valor nutricional, rico em proteínas, ferro, cálcio e zinco. "A mangaba é uma fruta rica em compostos bioativos, vitamina C, além de fibras e minerais relacionados a saúde cardiovascular e ao sistema imunológico", contou.
Baru
Baru, em Goiás
Arquivo pessoal/Roberval Cortes
A especialista detalhou que o baru está em alta. "É uma árvore grande, que ajuda na questão reflorestamental. Também é uma leguminosa que consumimos as castanhas, uma das mais nutritivas do mundo, excelente escore de aminoácidos essenciais. Excelente para crianças e também para vegetarianos e veganos, além de rico em cálcio, ferro, zinco, magnésio, ácidos graxos poli-insaturados, relacionados a proteção antioxidante, cardiovascular e outras", explicou.
Mama-cadela
Mama-cadela, em Goiás
Arquivo pessoal/Roberval Cortes
A mama-cadela é um fruto com polpa comestível, carnosa e doce. Gabriela disse que a fruta é rica em carotenoides, fibras e outros compostos bioativos, antinflamatórios e depurativos relacionados à melhora de circulação sanguínea e estética.
Murici
Produtor em plantação de murici
Reprodução/TV Anhanguera
Já sobre o murici, a nutricionista destacou que o fruto é rico em ômega 3, fonte de fibras, potássio, vitamina A e C, além de arotenoides, luteína, quercetina, rutina, "catequinas que são potentes antioxidantes, que ajudam na saúde e no envelhecimento saudável".
Gleicy explicou ao g1 que a composição dessas frutas apresenta diversos compostos bioativos, com destaque para antioxidantes exclusivos e alta concentração de fitoquímicos. “Muitas vezes, esses níveis superam os encontrados em frutas tradicionais, como banana e maçã”, comparou.
Para a nutricionista, valorizar e preservar os frutos do Cerrado é essencial. “Garantir o consumo e a proteção dessas espécies significa manter a biodiversidade, os ecossistemas equilibrados e o sustento sustentável das populações locais”, concluiu.
Paixão dos goianienses
Goianiense apaixonado por pequi, o vendedor Leonardo Pimentel, reconheceu o valor simbólico e afetivo do fruto que considera dividir opiniões: as pessoas amam ou odeiam. Ele contou que, na juventude, chegou a ir até uma área de mata em São Miguel do Araguaia, na região norte do estado, para buscar pequi com a mãe e trazer para Goiânia.
Leonardo destacou ainda o valor cultural, medicinal e sustentável das frutas e produtos do Cerrado. Ele relembrou que o óleo de pequi era usado tradicionalmente pelas lavadeiras “para fazer sabão e massagear articulações”.
Na infância, ele aprendeu o uso da mama-cadela, que tem ação anti-inflamatória e é usada para tratamento de pele, como o vitiligo. Ele contou que a mãe costumava fazer “garrafadas” com ervas e frutos do Cerrado.
“Minha mãe sempre tratou a gente com remédios da natureza. Ela dizia que eram bons para tudo”, relembrou.
Orgulhoso de ser goiano, o vendedor define Goiânia como uma cidade acolhedora: “Se tivesse mar, seria o paraíso”, brincou.
Consumo de produtos orgânicos
Loja Cerrado Alimentos Orgânicos, no Setor Bueno, em Goiânia
Yanca Cristina/g1 Goiás
Para a nutricionista Gabriela Teles, os alimentos típicos do Cerrado tendem a ser produzidos em pequenas produções, agricultura familiar, e, em alguns casos, por povos tradicionais, que têm uma preocupação com a manutenção do meio ambiente e a qualidade do cultivo. "Uma produção e maneiras de manejo mais sustentáveis e saudáveis, que favorecem um solo saudável para a manutenção das vitaminas, minerais e compostos bioativos em geral", destacou.
"A gente, como consumidor final, ao valorizar esse tipo de produção e cadeia produtiva acaba por incentivar e ajudar a preservar mais o meio ambiente e desmatar menos que com alimentos produzidos por monoculturas e grandes empresas, além da preocupação social e de desenvolvimento regional, gera renda às pessoas que produzem o nosso alimento e que estão próximas a nosso prato", disse.
O austríaco Gregor Kux, fundador de uma empresa de orgânicos, é um dos pioneiros na comercialização de produtos orgânicos na capital. Ele chegou à cidade em 1998 e, ao perceber a ausência de um mercado voltado para esse tipo de alimento, decidiu abrir sua primeira loja em 2003, na Rua 15, no Centro de Goiânia.
“A intenção sempre foi trabalhar com produtos orgânicos e do Cerrado, que mantêm o bioma em pé”, explicou. Além de alimentos frescos, a loja oferece itens de extrativismo sustentável, como óleos de pequi e babaçu, farinha de baru e sabonetes de macaúba, todos orgânicos.
Natural de Viena, Gregor cresceu em contato com o movimento orgânico na Europa. “Na minha infância, nos anos 1970, meus pais já consumiam alimentos orgânicos. Vi o surgimento das primeiras lojas e supermercados dedicados a isso na Áustria e na Alemanha”, lembrou. Ele acredita que a agricultura orgânica é mais do que uma prática alimentar, é também uma filosofia de vida.
Para o empresário, consumir produtos orgânicos é um ato de consciência ambiental. “Nosso consumo determina o que será produzido. Se todos escolherem orgânicos, contribuímos não só para a própria saúde, mas para o solo, a biodiversidade e o equilíbrio do ambiente”, afirmou.
Hoje, aos 59 anos, Gregor, que já se considera um goianiense, fundou o projeto Terra Carbono, voltado à produção de adubo orgânico e ao sequestro de carbono da atmosfera. “A ideia é restaurar o solo e criar um fertilizante sustentável, inspirado na terra preta dos povos indígenas amazônicos”, explicou.
A Associação para o Desenvolvimento da Agricultura Orgânica de Goiás (ADAO-GO) une o interesse do consumo de produtos saudáveis ao interesse do cuidado com o meio ambiente. Atualmente, 25 agricultores orgânicos fazem parte da iniciativa. A associação realiza uma feira de produtos orgânicos aos sábados, das 5h30 às 10h, no Centro Cultural Mercado Popular da 74.
Mudas de plantas do Cerrado
Viveiro de mudas da Emater, em Goiânia
Arquivo pessoal/Laureano Vargas
O técnico Laureano Vargas, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Goiás (Emater- GO), é responsável pelo viveiro de mudas e pela viticultura da instituição, em Goiânia. Aos 74 anos, ele atua na produção e comercialização de espécies nativas do Cerrado, com foco na preservação ambiental e no apoio à agricultura familiar.
Ao g1, ele contou que o viveiro produz mudas de cerca de 50 espécies de frutas do Cerrado, entre as mais de 100 catalogadas com valor econômico. “Fazemos mudas de árvores e plantas menores, todas frutíferas do Cerrado”, explicou. As mudas são vendidas a baixo custo para agricultores familiares, donos de chácaras e sítios, além de produtores de outros estados.
Segundo Laureano, as mudas são usadas para recomposição de áreas degradadas, nascentes e matas ciliares, a partir de um preço acessível. A maioria das espécies custa R$ 5. Entre as mais procuradas, estão:
pequi;
mangaba;
baru;
jatobá;
buriti;
jenipapo;
guapeva.
Além da importância ecológica, o técnico destacou o valor econômico das frutas. Ele ressaltou que muitos frutos são transformados em sucos, doces, compotas, licores, farinhas, cosméticos e pratos típicos salgados, como o famoso arroz com pequi.
“Essas frutas ajudam a recompor o bioma e sustentam economicamente muitas famílias goianas”, concluiu.
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