Mais duas pessoas são presas por suspeita de desvio de verba de emendas parlamentares na Câmara de Ipojuca
19/11/2025
(Foto: Reprodução) Delegado Ney Luiz Rodrigues fala sobre novas prisões da Operação Alvitre
A Polícia Civil prendeu, nesta quarta-feira (19), mais duas pessoas suspeitas de envolvimento no desvio de mais de R$ 27 milhões em emendas parlamentares no município de Ipojuca, no Grande Recife. Entre os detidos na Operação Alvitre II estão o presidente do Instituto Filhos de Ipojuca, entidade ligada ao vereador Flávio do Cartório (PSD), presidente da Câmara Municipal, e um empresário, que prestava serviços ao município.
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Segundo a Polícia Civil, três mandados de prisão foram expedidos. Um deles já tinha sido cumprido na noite de terça-feira (18), contra o presidente da Câmara Municipal de Ipojuca, Flávio do Cartório (PSD). Ele e o vice-presidente da Casa, Professor Eduardo (PSD), foram detidos num supermercado no Recife , com cerca de R$ 17 mil em espécie, em circunstâncias que podem indicar lavagem de dinheiro.
Os detalhes da ação foram divulgados nesta quarta- na sede do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), no bairro do Torreão, na Zona Norte do Recife.
Por meio de nota, o PSD de Pernambuco informou que vai acompanhar as investigações referentes às prisões dos vereadores filiados ao partido e que, "assim que o processo legal for concluído, adotaremos as medidas cabíveis". Procurados, os advogados dos vereadores não quiseram falar com o g1.
O empresário detido é natural de Bezerros e prestava serviços ao município de Ipojuca. O outro detido é o presidente do Instituto Filhos de Ipojuca, entidade ligada ao presidente da Câmara, e que também recebia repasses oriundos das emendas. Os nomes dos suspeitos não foram divulgados.
De acordo com as investigações da Polícia Civil e do MPPE, o Instituto Filhos de Ipojuca recebeu mais de R$ 12 milhões, entre 2022 e 2025.
"As investigações revelaram, a partir de diversas diligências, que a associação, na verdade, pertence a ele [Flávio do Cartório]. Ele, inclusive, teria declarado em uma prestação de contas que a associação seria dele. Também tinha uma conta de luz, da associação, que estava no nome dele ou do pai dele", contou o delegado Ney Luiz Rodrigues.
A Polícia Civil afirma que o Instituto Filhos de Ipojuca, inicialmente, recebia aproximadamente R$ 250 mil para realizar atividades de escolinhas de futebol no município. Depois, passou a movimentar valores milionários com a inclusão dos repasses parlamentares. Além disso, a entidade teria passado a oferecer serviços de saúde sem possuir estrutura adequada para realizá-los.
“A partir da suspensão de um pagamento para uma determinada associação que sequer existia, os vereadores encaminharam o valor, que seria dessa outra associação, para a associação do vereador [Instituto Filhos de Ipojuca]. Foi quando alteraram a finalidade da associação e passou a ofertar serviço na área de saúde também”, afirmou o delegado.
O g1 entrou em contato com o Instituto Filhos de Ipojuca, mas não recebeu resposta até a última atualização desta reportagem.
Além dos três mandados de prisão, a segunda fase da operação também cumpriu 19 mandados de busca e apreensão nas cidades do Recife, Bezerros e Ipojuca. As investigações seguem em andamento.
Coletiva sobre a Operação Alvitre II com os promotores Roberto Brayner e Katarina Gouveia e os delegados Ney Luiz Rodrigues e Paulo Gondim
Cesinha/TV Globo
Desvio de emendas parlamentares
De acordo com a Polícia Civil, o esquema envolvia o uso de emendas parlamentares impositivas, instrumento pelo qual vereadores destinam parte do orçamento municipal, geralmente em torno de 2% da Receita Corrente Líquida, para projetos e áreas específicas.
Em Ipojuca, de acordo com a promotora de Justiça, Katarina Gouveia, essa porcentagem equivale a cerca de R$ 40 milhões. O município tem o terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB) de Pernambuco.
"Houve uma alteração na lei orgânica do município e hoje eles podem 'emendar' o orçamento do município em 2%. Isso dá em torno de uns quase R$ 40 milhões", detalhou.
A promotora informou ainda que o Ministério Público continua investigando o caso e que a denúncia ainda não foi enviada ao Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), tornado o investigação uma ação penal pública.
"Seguimos investigando até porque não oferecemos denúncia ainda. Estamos na fase da análise do material recolhido para poder oferecer a denúncia. Ainda falta evidências recolhidas para serem analisadas", contou.
Esquema investigado
Segundo o inquérito, além do Instituto Filhos de Ipojuca, outras instituições também foram beneficiadas pelo esquema investigado. Entre elas, o Instituto de Gestão de Políticas Públicas do Nordeste (IGPN), que recebeu pelo menos R$ 6,3 milhões de nove emendas parlamentares.
Pelo menos quatro pessoas ligadas ao instituto são investigadas:
Advogadas Eva Lúcia Monteiro e Edjane Silva Monteiro: irmãs que teriam envolvimento com o IGPN e foram presas em outubro;
Maria Netania Vieira Dias: também presa, auxiliou na elaboração da proposta e obtenção de orçamentos para empresas envolvidas;
José Gibson Francisco da Silva: presidente do IGPN, que está foragido;
Julio Cesar de Almeida Souza: diretor financeiro do IGPN, também foragido.
O inquérito também cita o Instituto Nacional de Ensino, Sociedade e Pesquisa (Inesp), que usa o nome de Faculdade Novo Horizonte. Essa empresa também seria utilizada pelo grupo criminoso para praticar os desvios.
Conforme a denúncia, a instituição recebeu repasses milionários para cursos de capacitação, com planos de trabalho considerados inconsistentes e orçamentos inflados.
No dia 28 de outubro uma mulher de 46 anos foi morta no quintal de casa pouco após ir à Delegacia de Porto de Galinhas para depor sobre o caso. Simone Marques da Silva era professora universitária e seria ligada uma das mulheres investigadas no esquema.
Horas antes de ser assassinada, Simone compareceu à delegacia, mas não chegou a ser ouvida, porque outro procedimento estava sendo realizado no local. Ela remarcou o depoimento para o dia seguinte, mas foi alvejada por tiros poucas horas depois.
No dia 5 de novembro, o empresário Gilberto Claudino da Silva Júnior, então gestor da Faculdade Novo Horizonte, foi preso. Ele é apontado como "coordenador" dos desvios e foi capturado após um mês foragido.
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